O dia 13 de maio, marcado no calendário histórico brasileiro como a data da assinatura da Lei Áurea, transcende a formalidade de um decreto para se revestir de um significado muito mais profundo e potente dentro da Umbanda e das tradições afro-brasileiras. É neste dia que ecoa com fervor o “Saravá, Pretos Velhos!”, uma saudação carregada de respeito, amor e reconhecimento àqueles que são a personificação da sabedoria ancestral, da resistência e da mais pura espiritualidade.
Longe de ser apenas uma lembrança da abolição da escravatura – um processo complexo e, para muitos, inacabado – o 13 de maio se transforma em um portal para a celebração da rica herança africana, pilar fundamental que nutre a fé e a identidade de incontáveis brasileiros.
Este artigo se propõe a mergulhar na essência desta comemoração, explorando quem são essas veneráveis entidades, a profundidade de sua conexão com as raízes africanas e o legado luminoso que os Pretos Velhos e Pretas Velhas oferecem à nossa jornada espiritual e humana, especialmente sob a luz desta data tão emblemática.

Quem São os Pretos Velhos? A Voz da Ancestralidade na Umbanda
No coração da Umbanda, pulsa a presença serena e poderosa dos Pretos Velhos e Pretas Velhas. São eles a voz da ancestralidade, espíritos de antigos africanos e seus descendentes que viveram os tempos da escravidão e que, após a jornada terrena, retornam como guias de luz, transbordando sabedoria, paciência e um amor incondicional.
Manifestam-se com a simplicidade de anciãos, curvados pelo peso dos anos e das experiências, mas com um olhar que penetra a alma e uma fala mansa que acalenta e orienta. Seus nomes, muitas vezes ligados às suas origens africanas (como Pai Joaquim de Angola, Vovó Maria Conga) ou a elementos da natureza e da fé, carregam a força de suas histórias e missões.
A simbologia que os envolve é rica e profundamente conectada à sua vivência e à espiritualidade afro-brasileira. O cachimbo ou o cigarro de palha, sempre presentes, não são meros vícios, mas ferramentas de trabalho espiritual; a fumaça que deles emana é vista como um elemento de limpeza, purificação e conexão com o sagrado, levando as preces e dispersando as energias negativas.
O terço, ou rosário, frequentemente em suas mãos, representa a fé e o sincretismo religioso, uma ponte entre as tradições africanas e o catolicismo popular, muitas vezes uma forma de resistência e preservação de suas crenças originais em um contexto de opressão.
Ervas como a arruda e a guiné são constantemente utilizadas em seus benzimentos e passes, evocando o profundo conhecimento da medicina ancestral africana, capaz de curar o corpo e o espírito.
A figura do Preto Velho e da Preta Velha, embora compartilhem a mesma linha de trabalho e a mesma essência de sabedoria e humildade, podem apresentar nuances. As Pretas Velhas, muitas vezes, trazem uma energia maternal mais acentuada, um acolhimento que remete às avós carinhosas, com um foco especial na cura emocional e nos conselhos para a vida familiar e afetiva. Os Pretos Velhos, por sua vez, podem manifestar uma energia mais voltada à firmeza dos conselhos, à quebra de demandas e à orientação em questões práticas e espirituais mais densas. Contudo, ambos são mananciais de compaixão.
Sua missão espiritual é multifacetada, mas centra-se no auxílio ao próximo. São exímios curadores, não apenas das dores físicas, mas principalmente das chagas da alma. Através de passes magnéticos, benzimentos, rezas sussurradas e conversas profundas, eles promovem o alívio, o equilíbrio energético e a clareza mental.
São conselheiros natos, oferecendo direcionamento com base em sua vasta experiência de vida e em sua elevada compreensão espiritual. Amparam os aflitos, fortalecem os desanimados e, acima de tudo, transmitem o conhecimento ancestral, resgatando a importância da humildade, da paciência, da caridade e da fé inabalável como pilares para uma vida plena e conectada ao divino.
São, em essência, faróis de luz que guiam através das tempestades da existência, sempre com um sorriso sereno e uma palavra de esperança.
A Herança Africana: Raízes Profundas da Espiritualidade e Resistência
A força e a sabedoria dos Pretos Velhos não surgem do vácuo; estão intrinsecamente ligadas às profundas raízes da herança africana, um manancial de conhecimentos, tradições e espiritualidade que sobreviveu à brutalidade da diáspora e do cativeiro.
Mesmo arrancados de sua terra natal e submetidos a condições desumanas, os africanos escravizados e seus descendentes encontraram formas de preservar e adaptar suas ricas culturas, e a religiosidade foi um dos principais campos dessa resistência silenciosa e potente. Os Pretos Velhos são, em muitos aspectos, os guardiões dessa memória ancestral viva.
A conexão com a África se manifesta de diversas formas na atuação dessas entidades. O profundo conhecimento sobre o uso de ervas para a cura, por exemplo, é um legado direto das práticas medicinais tradicionais africanas, onde a natureza é vista como uma farmácia viva e cada planta possui suas propriedades energéticas e curativas.
Os rituais, os cantos (pontos cantados) e a oralidade como forma primordial de transmissão de conhecimento são também elementos que ecoam as tradições ancestrais do continente africano, onde a palavra falada e cantada tem poder e a história é passada de geração em geração através de narrativas e ensinamentos diretos.
A resistência cultural e espiritual foi uma constante. Diante da imposição do catolicismo e da proibição de suas práticas religiosas originais, os africanos escravizados utilizaram o sincretismo como uma estratégia inteligente de sobrevivência. Associaram seus Orixás e entidades a santos católicos, permitindo que, sob o véu da religião dominante, pudessem continuar a cultuar suas divindades e a manter vivos seus rituais. Os Pretos Velhos, com seus terços e referências a santos, muitas vezes refletem essa história de adaptação e perseverança, sem que isso signifique um abandono de suas raízes.
Nesse contexto de brutalidade e resistência, a tradição oral nos terreiros de Umbanda preserva também a memória de outros sofrimentos e das formas simbólicas de lidar com eles. Relata-se, por exemplo, que como forma de castigo e tortura, alguns escravizados eram forçados a beber café fervente, queimando dolorosamente a língua e a boca, uma violência que visava silenciar e subjugar.
Em respeito a essa dor ancestral e como uma forma de honrar aqueles que padeceram sob tais crueldades, muitos Pretos Velhos, ao se manifestarem em terra, optam por tomar o café frio ou em temperatura ambiente. Essa prática, carregada de simbolismo, representa não apenas a lembrança de um passado de opressão, mas também a transcendência desse sofrimento, transformando a memória da dor em um ato de respeito, cura e conexão espiritual profunda com seus antepassados.
A importância da memória coletiva e da identidade negra é central na formação da Umbanda e na figura dos Pretos Velhos. Eles representam não apenas a dor e o sofrimento da escravidão, mas, fundamentalmente, a capacidade de superação, a resiliência e a manutenção da dignidade humana e espiritual mesmo nas circunstâncias mais adversas. São a prova viva de que a cultura africana, com sua vasta cosmologia e sua profunda conexão com o sagrado, não pôde ser aniquilada.
Ao contrário, floresceu em solo brasileiro, mesclando-se a outras influências e dando origem a manifestações religiosas únicas como a Umbanda, onde a herança africana é celebrada como um tesouro de sabedoria e força espiritual.
13 de Maio: Da Abolição Inacabada à Celebração da Força Ancestral
O dia 13 de maio de 1888 é oficialmente lembrado como o marco da abolição da escravatura no Brasil, com a promulgação da Lei Áurea. No entanto, para a Umbanda e para grande parte do movimento negro, esta data carrega uma complexidade que vai muito além da simples celebração de uma liberdade concedida.
É vista, por muitos, como o símbolo de uma abolição inacabada, que não garantiu aos negros recém-libertos as condições necessárias para uma cidadania plena, perpetuando desigualdades e o racismo estrutural.
É nesse contexto que a Umbanda ressignifica o 13 de maio, transformando-o em um dia de profundo louvor e gratidão aos Pretos Velhos, mas também de denúncia, memória e reafirmação da contínua luta por justiça e igualdade.
Para os umbandistas, o 13 de maio é, antes de tudo, o dia de celebrar a força, a sabedoria e a resistência dos Pretos Velhos e Pretas Velhas. São eles que, com sua humildade e imenso amor, representam a superação das agruras do cativeiro e a manutenção da chama da espiritualidade africana.
Os terreiros de Umbanda, neste dia, costumam realizar giras especiais, verdadeiras festas espirituais em honra a essas entidades. Os atabaques soam mais vibrantes, os pontos cantados ecoam com emoção, narrando histórias de sofrimento, mas também de fé e esperança.
As oferendas, sempre simples e carregadas de simbolismo – como o café amargo, o bolo de fubá, a canjica, o fumo de rolo, as velas brancas e pretas – são depositadas com reverência, como um agradecimento pelas bênçãos, curas e conselhos recebidos ao longo do ano.
Mais do que uma festa, a celebração do 13 de Maio nos terreiros é um ato de resistência e de preservação da memória. É um momento para lembrar que a liberdade não foi um presente, mas uma conquista árdua, fruto de muita luta e do sacrifício de incontáveis vidas.
É também uma oportunidade para refletir sobre as sequelas da escravidão que ainda persistem na sociedade brasileira e para reafirmar o compromisso com a construção de um futuro mais justo e igualitário.
A mensagem que emana desta celebração é de profunda esperança e resiliência. Os Pretos Velhos nos ensinam que, mesmo diante das maiores adversidades, é possível manter a fé, a dignidade e a capacidade de amar e perdoar. Eles são a prova de que a luz da espiritualidade pode brilhar mesmo nas mais densas trevas, guiando e fortalecendo aqueles que buscam a evolução e a paz interior.

A Espiritualidade Viva dos Pretos Velhos: Ensinamentos para o Presente
A espiritualidade manifestada pelos Pretos Velhos é eminentemente viva, pulsante e profundamente conectada com as necessidades humanas, transcendendo o tempo e o espaço. Seus ensinamentos, transmitidos com simplicidade e carregados de uma sabedoria ancestral, oferecem um farol seguro para navegar os desafios da contemporaneidade.
Os valores que eles personificam e ensinam – como a humildade, a paciência, a caridade, a fé inabalável, o respeito à natureza, aos mais velhos e a todas as formas de vida – são mais atuais do que nunca em um mundo frequentemente marcado pela pressa, pelo individualismo e pela desconexão espiritual.
A cura promovida por essas entidades vai muito além do alívio de sintomas físicos. Através da palavra amiga, do olhar compassivo, do passe energético que reequilibra os chacras e da indicação de banhos de ervas que limpam o corpo astral, os Pretos Velhos atuam primordialmente na cura da alma.
Eles compreendem as dores humanas em sua profundidade, as angústias existenciais, os medos e as inseguranças que tolhem o caminhar. Com sua paciência infinita, escutam sem julgamentos, oferecendo conselhos que são verdadeiras pérolas de sabedoria, capazes de despertar a força interior e a capacidade de superação que reside em cada um.
A relevância de seus ensinamentos para os dias atuais é imensa. Em uma sociedade que muitas vezes valoriza o ter em detrimento do ser, os Pretos Velhos nos recordam da importância da simplicidade, da gratidão pelas pequenas coisas e da riqueza que reside nos laços de afeto e na conexão com o sagrado.
Diante da intolerância e dos preconceitos que ainda persistem, eles nos ensinam o valor do respeito às diferenças, da compaixão e do perdão. Para aqueles que buscam um sentido maior para a vida e uma conexão espiritual mais profunda, os Pretos Velhos oferecem um caminho de autoconhecimento, de fé e de serviço ao próximo.
Incorporar a sabedoria dos Pretos Velhos no dia a dia não requer rituais complexos, mas uma mudança de perspectiva e de atitude. Significa cultivar a paciência diante das adversidades, praticar a escuta atenta e empática, oferecer ajuda desinteressada, perdoar as ofensas, agradecer pelas bênçãos recebidas e, acima de tudo, manter a fé na vida e na força superior que nos guia.
É olhar para o outro com os olhos do coração, reconhecendo a centelha divina que habita em todos os seres. Ao fazê-lo, não apenas honramos o legado dessas veneráveis entidades, mas também abrimos nossos próprios caminhos para uma vida mais leve, significativa e espiritualmente rica.
Conclusão: Saravá à Força que Resiste e Ilumina
Os Pretos Velhos e Pretas Velhas são muito mais do que entidades espirituais cultuadas na Umbanda; são a personificação da resiliência, da sabedoria que brota da dor transmutada em amor, e os fiéis guardiões da rica e inestimável herança africana que pulsa no coração do Brasil.
Celebrá-los no 13 de maio é um ato de profundo reconhecimento e gratidão, mas também um chamado à reflexão e à ação. É entender que a verdadeira abolição se constrói diariamente, na luta contra o racismo, na valorização da cultura afro-brasileira em todas as suas manifestações e no respeito à diversidade religiosa.
Que o cachimbo sagrado dos Pretos Velhos continue a emanar a fumaça da paz, da cura e da sabedoria. Que seus conselhos continuem a guiar os passos daqueles que buscam a luz e que sua presença serena nos inspire a construir um mundo mais justo, fraterno e espiritualmente consciente.
Ao ecoarmos o “Saravá, Pretos Velhos!” Adorê as Almas, não estamos apenas saudando essas veneráveis entidades, mas também reverenciando a força ancestral que reside em cada um de nós e a chama da esperança que jamais se apaga.
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Assim como os Pretos Velhos, os Caboclos também atuam com sabedoria e força na cura espiritual. Conheça suas características, formas de trabalho e como eles se manifestam nas giras.
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🌸 13 de maio é dia de fé e luz em muitas tradições espirituais.
Além de homenagearmos os amados Pretos Velhos na Umbanda, também celebramos Nossa Senhora de Fátima, símbolo de amor, esperança e proteção.
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Saravá, Pretos Velhos! 🙏🏿✨ Que força doce e sábia habita nesses guias que, com humildade, amor e paciência, nos ensinam o verdadeiro sentido da liberdade espiritual. Celebrar o 13 de Maio é honrar a resistência, a ancestralidade e a sabedoria que atravessou séculos com fé e dignidade.. Gratidão eterna aos que vieram antes e abriram caminhos com tanto axé!